António Torrado (1939-2021) é um dos grandes nomes da literatura para a infância em Portugal. Afirmá-lo tornou-se banal porque evidente. Relevante é, pois, lê-lo e  compreender o caminho que percorreu ao longo de várias décadas e mais de uma centena de livros publicados. Nesse caminho de reinvenção e revolução permanentes – dos temas, da linguagem, do modo de contar e de dizer –, o próprio escritor mina qualquer hipótese de ser cristalizado num epíteto. Ele é uma soma profunda e elevada ao infinito da imaginação: é o contador de histórias, o recontador, o dramaturgo, o argumentista, o ensaísta, o pedagogo, o jornalista, o poeta, o professor, o editor, o pai, o avô, o cúmplice, o amigo, o adorável homem do sorriso largo e do humor fino, o menino topa-tudo que conta connosco, que, de mão dada connosco, leitores, se constrói enquanto ser para a literatura.

Quando, em 1988, foi distinguido com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura para Crianças, António Torrado tinha já dezenas de livros editados. Também já tinha o hábito de dizer que, desde sempre, aquilo que mais gostava de fazer era de brincar. Repete-o na conversa incluída neste livro, uma espécie de jogo em que se puxam palavras e assuntos com o espanto da descoberta e a curiosidade da infância. Entrámos com António Torrado nisto e tivemos assim o privilégio da sua companhia nos últimos meses que viveu.

Pouco tempo antes de morrer, de doença prolongada, António Torrado, com a generosidade, a sabedoria e o humor que o caracterizavam, conversou com Inês Fonseca Santos sobre o seu longo percurso como escritor, pedagogo e autor de uma das mais singulares e vastas obras da literatura infante-juvenil portuguesa. Mas não só: recordou a infância, as experiências que o marcaram, os autores que o inspiraram. A esta conversa somam-se depoimentos de pares, amigos e familiares. António Torrado. Correr atrás da História integra a colecção História Natural do Livro, dedicada à criação para a infância e a juventude.

Colecção História Natural do Livro

São as pessoas que dão forma e sentido aos livros. Para que os livros aconteçam, é preciso um pequeno universo: quem os escreva, quem os desenhe e pagine, quem os ilustre, quem os edite, quem os imprima, quem os divulgue e venda, quem os leia e até quem os critique. Um bom livro – e, ainda mais, um livro excecional –, no momento em que é lido, pode parecer um fenómeno dependente de probabilidades raras, se não únicas, para a concretização de uma harmonia plena, mas será sempre o resultado de uma cadeia intrincada de influências e dívidas mútuas, o produto de um ecossistema sem início ou fim, que se rege por afinidades. A colecção História Natural do Livro propõe, em cada título, a descoberta de uma voz que nos envolve a todos.