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Céu gosta muito de andar de baloiço. Um dia, o pai chamou-a para ir para casa e Céu respondeu não com tanta, tanta força que a sua cabeça saltou e voou para longe. Com a ajuda de uma gaivota, Céu sobe uma montanha em busca da cabeça perdida. Será que a vai recuperar?
Numa aventura em que se entra no jogo das expressões idiomáticas, António Jorge Gonçalves recria o ambiente fantástico dos contos tradicionais.
António Jorge Gonçalves é também autor de Barriga da Baleia e Estás tão Crescida. Para o Pato Lógico, ilustrou Salgueiro Maia. O Homem do Tanque da Liberdade, escrito por José Jorge Letria, e Fernão de Magalhães. O Homem Que se Transformou em Planeta, com texto de Luís Almeida Martins.
Eu Quero A Minha Cabeça! por António Jorge Gonçalves
«O meu interesse pelas obras para a infância surgiu tarde na minha vida, e apenas por causa do nascimento da minha filha Miranda, há dez anos. Com ela, descobri a ligação intuitiva que as crianças pequenas têm com a natureza, e a elevada literacia visual que possuem porque ainda não foram contagiadas pela obsessão da leitura das palavras. Comecei por contar estas histórias à minha filha Miranda. Com ela e as suas amigas, aprendi uma outra maneira de olhar para o mundo. Elas estudaram numa escola Waldorf, com a natureza sempre por perto, aprendendo a trabalhar uma horta e a subir às árvores. Foi nessa vivência que me inspirei, dando a estas aventuras um tom intemporal e universal, sem referências étnicas ou geográficas.
Barriga da Baleia e Eu Quero a Minha Cabeça começaram por ser peças de teatro que fiz com um retroprojector de transparências e a actriz Ana Brandão, e só depois álbuns ilustrados. Assim, o modo de narrar seguiu a ordem evolutiva das primeiras histórias da humanidade: primeiro, foram contadas por alguém; depois, encenadas em rituais e só mais tarde transformadas em livros.
A história parte da importância e omnipresença do “não” nas crianças pequenas. Partindo de uma metáfora morta (“perder a cabeça”), constrói-se a fantasia duma criança que perde realmente a cabeça de tanto usar a negativa. Esta crise inicial empurra a nossa heroína numa busca pela sua cabeça, subindo a montanha (metáfora para todas as dificuldades). Assistimos às várias hipóteses de substituição que lhe são oferecidas e experimentadas. Todas têm as suas vantagens, mas a nossa personagem é resiliente e não duvida de que irá encontrar a sua cabeça.
No cimo da montanha, as hipóteses parecem estar esgotadas, mas a vida é cheia de reviravoltas extraordinárias: um espirro que se revela providencial e a projecta numa queda (qual Alice do país das maravilhas) até ao âmago do assunto — o coração da Montanha (o coração da dificuldade).
Para resolver a sua questão e regressar a casa, ela precisará de dizer a palavra-chave (a positiva, que irá desfazer o efeito da negativa). É o momento catártico da história e, na versão teatral, as crianças eram convocadas para ajudar a descobrir qual a palavra-chave.
No final, assistimos à subtileza da resposta da Céu (“já vou…”), que revela inteligência emocional — em vez de assumir o confronto pela negativa, ela escolhe levar a sua avante, negociando mais um tempo.»
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