Nasceu pobre e cresceu sem colo, separada dos pais. Uma dor que só o avô materno tornou menos pesada. Num tempo em que se proibiam poemas e canções, ela pôs-se a cantar a sua tristeza pelas ruas de Lisboa. E a voz depressa galgou fronteiras, comovendo multidões em todo o mundo. Foi Amália Rodrigues quem primeiro ousou cantar os poetas eruditos da língua portuguesa. Graças a ela, o fado, outrora malvisto, transformou-se numa canção universal. Pelo meio, voltou ao folclore – com a mãe, em estúdio, tentará gravar as canções da infância. Amália gostava de Salazar, mas não conhecia regras e ajudava presos políticos. Invejada pelos pares, foi atacada na revolução de Abril, mas reinventou-se e (re)criou o seu próprio fado.
Sónia Graça escreveu e Paulo Monteiro ilustrou um livro onde se traça o perfil daquela que foi considerada, mais do que uma vez, uma das maiores cantoras do século XX.
A colecção Grandes Vidas Portuguesas nasceu em 2014 de uma parceria entre o Pato Lógico e a Imprensa Nacional-Casa da Moeda. É dedicada às vidas de personalidades que se destacaram em vários domínios da História de Portugal.
Amália Rodrigues. Um Lugar Misterioso por Sónia Graça
«Amália era um nome distante, para mim. O fado, em geral, não me arrebatava. Por isso, quando recebi o convite para escrever um livro sobre a vida e obra desta fadista, hesitei. Mas acabei por ceder à curiosidade. Pesquisei, li muito e falei com muitas pessoas —o que sempre me deu muito prazer, como jornalista. Mas o mais importante veio a seguir: escutar a voz de Amália como se estivesse a lê-la. Tive de passar a melodia pelo coração e transformá-la depois em palavras. E foi impossível não me render àquela voz. Foi a voz de Amália —não o fado —que me conduziu a esse mistério que é o de ficar arrebatado quando se ouve música.»